É possivel aliar a conservação do rio Paiva ao turismo, tendo em conta as potencialidades deste espaço magnifico, classificado como Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura 2000. Potenciar o turismo no Paiva, poderá ser igualmente uma das melhores formas de garantir a sua preservação. Mas há dois factores importantes a ter em conta: sensibilidade e bom senso.
Há 14 anos que o Rio Paiva está incluído na lista de sítios da Rede Natura 2000, que tem como finalidade assegurar a conservação a longo prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados da Europa, contribuindo para travar a perda de biodiversidade. A Rede Natura 2000, constitui o principal instrumento para a conservação da natureza na União Europeia, uma classificação que reconhece a importância do Rio Paiva e o seu bom estado de conservação. Já não são muito os rios na Europa que apresentam características como este, e é isso que verdadeiramente o torna único. Livre da ameaça das grandes barragens, o Paiva continua a cumprir a sua função, e a conservar paisagens únicas e cheias de vida.
Nas últimas décadas, o rio, quase esquecido num profundo e pouco acessível vale, passou a ser palco de diversas actividades de recreio, nomeadamente a prática dos chamados desportos de aventura, além de muito frequentado durante o Verão, pela população da região. Depressa se percebeu a potencialidade turística deste curso de água, e são muitos e variados os projectos de apoio e desenvolvimento turístico do Rio Paiva que têm vindo a ser desenvolvidos.
A Associação S.O.S. Rio Paiva participa na elaboração e desenvolvimento da Carta Europeia de Turismo Sustentável (CETS), que tem como objectivo global promover o desenvolvimento do turismo de uma forma sustentável nas Áreas Protegidas e Classificadas da Europa, abrangendo um vasto território, designado de “Montanhas Mágicas“, onde se incluem os concelhos de Arouca, Castelo de Paiva, Castro Daire, Cinfães, São Pedro do Sul, Sever do Vouga e Vale de Cambra. O projecto assenta num conjunto de princípios, que orientam a CETS, onde se inclui o controle do “fluxo de visitantes para reduzir os impactos negativos que o turismo possa causar”. Ao longo do processo de candidatura à Carta Europeia de Turismo Sustentável, a S.O.S. Rio Paiva salientou a necessidade de conjugação de dois factores, “conservação” e “desenvolvimento turístico”, algo que só será possível concretizar de forma verdadeiramente sustentável, se soubermos identificar as ameaças a este património natural.
Potenciar o desenvolvimento turistico no Rio Paiva, sem identificar os seus problemas e ameaças, é um risco que não devemos assumir. Muitos deles já são conhecidos, e o funcionamento das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que drenam para a bacia do Paiva, é, como se sabe, uma das maiores ameaças, que pode comprometer no futuro a imagem da região. Mas não é, infelizmente, o único. As toneladas de resíduos deixados ao abandono após décadas de exploração mineira, são outra ameaça séria que ainda não foi solucionada.
Nas margens do Paiva já surgem novos projectos turisticos, alguns deles de gosto muito duvidoso, que incluem construções de edifícios em betão armado e abertura de acessos a viaturas automóveis e a pessoas, em zonas que, até agora, eram inacessíveis ou pouco frequentadas por humanos. Outros estão prestes a avançar, sem que exista um plano de gestão do Rio Paiva, que oriente este desenvolvimento. É urgente delimitar àreas no rio Paiva destinadas ao lazer, regulamentar a prática de desportos de aventura e solucionar o problema das ETAR.
O Paiva merece ser ususfruído, mas é urgente que os agentes locais, com poder de decisão, sejam abençoados pelo bom senso, necessário para perceber, por exemplo, que uma praia interdita a banhos, não é uma praia, e tenham sensibilidade suficiente para reconhecer que um rio não é apenas um canal de água fresca no Verão. As autarquias locais têm neste processo um papel fundamental, e não podemos esquecer que dar o exemplo, sempre foi, a mais eficaz ferramenta para a sensibilização.
Sérgio Caetano