O Decreto-Lei n.º 236/98 que visa melhorar a qualidade das águas em função dos seus principais usos, define um critério apertado de presença/ausência no que respeita a salmonelas em águas balneares (águas doces, correntes ou paradas, ou águas do mar). Ou seja, a deteção deste microrganismo é por si só preocupante, independentemente da sua abundância.
Salmonella spp. é um género de bactérias pertencente à família Enterobacteriaceae. Vulgarmente chamadas de salmonelas, são bactérias gram-negativas, em forma de bacilo e na sua maioria móveis. As salmonelas são um género extremamente heterogéneo, dentro do qual existem mais de 2500 serótipos1.

O trato intestinal do homem e dos animais é o principal reservatório natural deste microrganismo patogénico. As salmonelas são normalmente encontradas em aves, répteis, anfíbios, bovinos, ovinos, suínos e até mesmo em animais domésticos, como cães e gatos.
As infeções causadas por salmonela (salmoneloses) são consideradas um dos problemas mais alarmantes de saúde pública em todo mundo. O aumento da incidência destas infeções provocada por alimentos e água contaminados implica a adoção de programas permanentes de controlo e erradicação.
A carne de animais de consumo, o leite e os ovos são os principais veículos de transmissão de salmonela. Os alimentos portadores da bactéria, ao entrarem em contacto com outros alimentos, podem contaminá-los, tornando-os num novo veículo de infeção – contaminação cruzada.
Estando presentes no sistema digestivo de humanos e animais, estas bactérias são facilmente libertadas nas fezes, contaminando o meio ambiente. Surgem assim problemas de ingestão de água e de espécies vegetais que contactaram com matéria fecal durante o seu cultivo. Neste sentido, os efluentes orgânicos de origem humana e animal são uma fonte de contaminação por salmonela dos diferentes compartimentos do ecossistema.
A persistência destas bactérias nas águas superficiais, como rios e lagos, depende de vários fatores ambientais: temperatura, pH, disponibilidade de nutrientes, interação com outros microrganismos, exposição a radiação ultravioleta, etc. Assim, a viabilidade das salmonelas em sistemas naturais decresce com o tempo, sendo que normalmente sobrevivem menos de 30 dias.

A maioria das espécies de Salmonella spp. é patogénica para os humanos. Esta bactéria, após ser ingerida pelo hospedeiro, multiplica-se e entra nas células epiteliais do intestino desencadeando uma resposta inflamatória. Uma infeção por salmonela assemelha-se, na generalidade, a outras infeções gastrointestinais. Os principais sinais e sintomas são: diarreia, vómitos, febre moderada, dor abdominal, mal-estar geral, cansaço, etc. Estes sintomas surgem cerca de 6 a 48 horas após ingestão de alimentos ou água contaminados.
A presença de salmonela pode ser prevenida por meio da adoção de medidas de controlo em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção agrícola até ao processamento e preparação de alimentos. Para além disso, é de crucial importância o tratamento de efluentes, pois são importantes fontes de contaminação ambiental.
BIBLIOGRAFIA:
Pui, C. F., Wong, W. C., Chai, L. C., Tunung, R., Jeyaletchumi, P., Hidayah, N., … & Son, R. (2011). Salmonella: A foodborne pathogen. International Food Research Journal, 18(2).
Eng, S. K., Pusparajah, P., Ab Mutalib, N. S., Ser, H. L., Chan, K. G., & Lee, L. H. (2015). Salmonella: a review on pathogenesis, epidemiology and antibiotic resistance. Frontiers in Life Science, 8(3), 284-293.
Liu, H., Whitehouse, C. A., & Li, B. (2018). Presence and persistence of Salmonella in water: The impact on microbial quality of water and food safety. Frontiers in public health, 6.
1 A nomenclatura das bactérias é ligeiramente diferente dos restantes organismos ditos superiores, uma vez que dentro de cada espécie existem várias estirpes e serótipos. Isto resulta do facto das bactérias serem organismos procariontes, com taxa de multiplicação elevada e, consequentemente, com grande diversidade.